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Marvel

A linha A Real American Hero, ou ARAH para os íntimos, tem uma história bastante singular no mercado de quadrinhos. Na época em que foi lançada, histórias baseadas em marcas licenciadas tinham a fama de ser o cemitério das carreiras de autores e duravam em média uns dois anos. Esta durou 12 anos, com 155 edições. Isso sem contar que ela continuou de onde parou em 2010 pela IDW com o mesmo autor, e é publicada até hoje por outra editora, a Skybound.

Segundo Jim Shooter¹, editor-chefe da Marvel na época, tudo começou com uma conversa no banheiro de um evento de caridade entre Jim Galton, presidente da editora e Stephen Hassenfeld, CEO da Hasbro em 1981. A Hasbro precisava de alguém para desenvolver uma história para ressuscitar a marca G.I. Joe, e Galton o convenceu de que a Marvel era boa em contar histórias.

Muita coisa que conhecemos hoje da marca nasceu dessa parceria. O G.I. Joe original era um soldado, mas a Hasbro queria que fosse uma linha cheia de bonecos. Shooter perguntou “como os outros vão se chamar? G.I. Jorge? G.I. Fred?” Então sugeriu que G.I. Joe fosse o nome da equipe. Além disso, achou que seria melhor que não fosse um brinquedo de guerra, mas uma força de elite.

Depois dessas conversas preliminares, o acordo foi fechado. Shooter conta que foi direto a Larry Hama, mas na versão de Larry, ele tinha o último escritório do corredor, e todos os outros antes dele recusaram o trabalho porque este tinha o estigma de ser um título baseado em um produto licenciado, o que todo mundo achava que era impossível de fazer dar certo. Até agora.

Seja como for, Hama tinha servido o exército e conhecia bem os jargões militares. Além disso, ele estava escrevendo uma história sobre um grupo paramilitar comandado pelo filho do Nick Fury chamado Fury Force. A maior parte de suas ideias foi aproveitada para a nova linha do G.I. Joe.

Conceito de Hama para a Fury Force

Em dado momento, o pessoal da Marvel fez uma pergunta um tanto óbvia ao pessoal da Hasbro: “o que eles fazem o dia inteiro? Ficam só marchando? Quem eles combatem?” A resposta é que eles não tinham realmente pensado nisso, achavam que eles poderiam brigar com um personagem do Playmobil ou Star Wars, ou algo parecido.

Coube então a Archie Goodwin, escritor e desenhista considerado por Shooter o melhor de sua equipe na época, criar o Comando Cobra e o Comandante Cobra. A ideia era que os inimigos fossem algo parecido com a Hydra. A Hasbro achava que vilões não vendiam, mas Goodwin e Shooter os convenceram. Sim, podem agradecer a eles.

Pelo acordo entre as duas empresas, a Marvel também produziria os comerciais dos quadrinhos, que eram pequenas animações, e que também serviriam para vender os bonecos, já que era proibido fazer comercial de brinquedos na época. Era uma maneira de a Hasbro burlar a legislação. Abaixo, um vídeo do Youtube com algumas amostras.

Se os comerciais pareceram familiares, é porque eles eram feitos pela Sunbow Entertainment, que era a divisão de animação da empresa de publicidade Griffin-Bacall, e que mais tarde co-produziu a animação clássica com a Marvel Production.

Foi, no entanto, Larry Hama que tornou a HQ o sucesso que ela foi. Ele tinha ampla liberdade com o título e também participava do desenvolvimento do brinquedo. Escreveu perfis para cada personagem que foram transformados em fichas e eram colocadas atrás das cartelas e caixas de Joes e Cobras. Ele tinha reuniões com a Hasbro nas quais eram apresentados novos conceitos, e opinava na criação de personagens e veículos.

Como resultado, em 1985 a revista se tornou a mais vendida entre as licenciadas e mais assinada da Marvel, com mais de um terço de assinantes a mais que a segunda colocada Amazing Spider-Man.

A Real American Hero

Principal título pela era Marvel, foram 155 números da A Real American Hero (ou ARAH) entre 1982 e 1994.

Abaixo, clique no título para ver a lista dos números publicados em cada ano.

G.I. Joe - A Real American Hero

Special Missions

O título Special Missions trazia o G.I. Joe em missões um pouco mais adultas, centrados em questões geopolíticas que remetiam a situações da época. Era mais comum que o inimigo nessa publicação não fosse o Cobra, mas algum grupo terrorista, ou mesmo que os Joes estivessem agindo em nome dos interesses do governo americano contra a URSS em algum país fictício.

Abaixo, clique no título para ver a lista dos números publicados em cada ano.

Série G.I. Joe - Special Missions

Yearbook

Estas revistas anuais traziam fichas, matérias, curiosidades e algumas novas histórias.

Order of Battle

Estas edições compilavam as fichas dos personagens, além de especificações de veículos.

G.I. Joe vs. Transformers

No Brasil

Por aqui, as revistas da Marvel foram lançadas em duas fases diferentes. A primeira, foi pela Editora Globo, entre agosto de 1987 julho de 1988. As HQs eram impressas no adaptado formatinho (13,5 x 19cm), muito comum no Brasil na época.

Esta fase contou com 12 números, justamente os primeiros 12 a serem publicados nos EUA. Em algumas edições, havia conteúdo extra, como as fichas da série 1 que originalmente foram publicadas no Yearbook, e no Brasil foram adicionadas ao nº 1.

Em 1993, a Editora Abril Jovem fez uma nova tentativa de fazer vingar a revista por aqui, e não estava pra brincadeira. Lançou uma versão caprichada em formato americano, que incluía artigos sobre temas de interesse relacionado, fichas, e até equipamentos de brinde para usar com os bonecos. As primeiras edições foram duplas, com 52 páginas de pura diversão.

Mas mesmo assim não foi o suficiente. O número 8 já dava indicações de que as vendas não iam indo bem, já que a editora passou a imprimir no formatinho. Desta vez, a fase durou 10 edições, entre março e dezembro, cobrindo os números 107 a 119 americanos.

Notas:

1 – Fonte: The Secret Parts of the Origin of G.I. Joe, do blog de Jim Shooter.