A DIC Entertainment surgiu como um departamento de produção da Radio Television Luxemburg francesa em 1971, e entrou no ramo da animação em 1981, estabelecendo uma parceria com o estúdio Tokyo Movie Shinsha. Chegou aos EUA de maneira despretensiosa, contratando o roteirista Andy Heyward, ex-Hanna Barbera, para traduzir suas produções para o inglês¹.
Logo, Heyward criou o Inspetor Bugiganga, primeiro sucesso da empresa nos EUA, e criando impulso para seu crescimento. Entre os desenhos mais conhecidos da produtora no Brasil estão Karatê Kid, Ted Ruxpin, Os Caça-Fantasmas, Dennis O Pimentinha, Onde Está Wally?, Sonic, Double Dragon, Dinossaucers, Alf, Turma da Pesada, entre outros¹.
A empresa, cuja sigla foi criada significando Diffusion, Information et Communication, logo passou a ser apelidada de Do It Cheap (Faça Barato), por conta de seus métodos de cortes de custo com despesas trabalhistas, contratando equipes como freelas e delegando produção para países com mão-de-obra mais barata¹.
De fato, segundo Buzz Dixon, a DIC praticava uma política de preços extremamente agressiva. Nesse ponto, a Hasbro estava chegando à conclusão que animações e brinquedos não necessariamente puxavam um ao outro em popularidade; às vezes brinquedos populares tinham desenhos que não decolavam, e programas populares às vezes tinham brinquedos que não vendiam, como foi o caso da Jem e as Hologramas. “A DIC basicamente se ofereceu para pagar pelo privilégio de fazer os programas dela [Hasbro], e a Hasbro viu pouca serventia em arriscar seu próprio dinheiro em uma aventura quando outros estavam se oferecendo para pagá-los para isso”, afirmou o ex-story editor de G.I. Joe².
O resultado é que a DIC arrematou a licença de G.I. Joe antes que a temporada 3 da Sunbow decolasse.
Em 1989, eles lançaram seu primeiro episódio, dividido em cinco partes, chamado Operation Dragonfire. Nos anos seguintes, mais duas temporadas foram produzidas. O elenco de vozes foi quase todo alterado nos EUA, restando somente Christopher Latta (Comandante Cobra), Morgan Lofting (Baronesa), Robert Remus (Sgt. Slaughter) e Edmund Gilbert (General Hawk) . Apenas Latta permaneceu até o fim da série, visto que Lofting e Gilbert foram substituídos na segunda temporada, e o Sgt. Slaughter nem aparece nesse último ano.
Letra da música de abetura na fase DIC:
Got to get tough! Yo Joe!) You know you’ve got to stand tall G. I. Joe is America’s top secret (Got to get tough! Yo Joe!) |
(Tem que se tornar durão! Yo Joe!) Você sabe que tem que se manter G.I. Joe é a força de ataque móvel (Tem que se tornar durão! Yo Joe!) |
Operation Dragonfire pega a continuidade de G.I. Joe – The Movie, mas apenas em partes. Embora mostre como foi revertida a transformação do Comandante Cobra, o Cobra La sequer é mencionado.
De uma maneira geral, a série tem um tom muito mais infantil do que a sua predecessora. Há demonstrações disso no humor mais pastelão e temas menos verossímeis ou relacionados a ficção científica, e mais focados em questões do dia-a-dia. Em resumo, grades armas e planos de dominação mundial ficam menos importantes, e ganham destaque a avó do Metal Head e brigas entre Cobras e Joes originadas no baile de formatura do Ensino Médio, ou levadas a cabo em um jogo de futebol americano.
Focar em uma faixa etária menor não seria o problema em si, se isso não significasse um emburrecimento das histórias como um todo. Se a série da Sunbow/Marvel foi um passo adiante para que crianças fossem menos subestimadas nos desenhos animados (ainda que hoje pareça datada em alguns pontos), a série da DIC foi um verdadeiro retrocesso nesse sentido, ainda mais ao se considerar que já haviam passado sete anos e os desenhos de então já estavam em outro patamar de qualidade de escrita. Mas falaremos um pouco mais disso adiante.
Não há continuidade entre as histórias. Os personagens têm comportamento pouco consistente em relação à predecessora Sunbow (muitos deles simplesmente desaparecem sem serem lembrados), ou mesmo dentro da própria série, com poucas exceções.
Uma dessas exceções é o Metal Head. Trapalhão, abobado e nada ameaçador, o vilão é responsável por momentos pouco memoráveis do desenho. Ainda assim, é um grande símbolo dessa fase e foi a nossa escolha na hora de incluir na coleção uma célula de animação usada em um dos episódios.
Não consegui até o momento encontrar nenhuma referência direta à razão do fim do contrato com a DIC. Parece que há um certo consenso de que o desenho não era lá muito bom e simplesmente não foi bem recebido³ pelos espectadores, o que se refletiu nos índices de audiência.
É preciso lembrar que, enquanto a qualidade do desenho afundou, o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 foi a época do início da TV a cabo e o fim da hegemonia da TV aberta e o esquema de syndication⁴ (programas de produtoras independentes licenciados para TVs locais, nos qual ambas as séries de G.I.Joe foram confeccionadas) nos EUA. Buzz Dixon culpa a política agressiva de preços baixos e especulação da DIC por contribuir com a decadência da syndication para crianças².
Muitos consideram esse período como um de renascimento da animação. Na TV, muitos títulos muito bem produizidos são lembrados até hoje, como Duck Tales (Disney, 1987), Animaniacs (Warner Bros, 1990) e Batman – a Série Animada (Warner Bros. 1992), além de programas voltados a audiências mais adultas como Simpsons (Fox, 1989) e Beavis and Butthead (MTV, 1993), só para citar alguns. Nesse ambiente competitivo, sobrava pouco espaço para os que não se adaptavam.
Inicialmente, três episódios foram lançados em VHS pela Buena Vista Home Video em 1992: Chunnel, El Dorado – Lost City of Gold, e Infested Island. O episódio A Vingança dos Faraós também foi vendida no formato, em conjunto com o boneco Rapid Fire, em 1990.
A mesma Shout! responsável por trazer a animação clássica em DVD lançou a fase da DIC em DVD em 2012. No primeiro pacote, estava inclusa a minissérie Operation Dragonfire e a primeira temporada completa. O segundo vinha com toda a segunda temporada.
Não encontramos referências ao lançamento da série 2 de G.I. Joe em streaming até o momento.
Segundo apuramos, a primeira temporada da série 2 da animação de G.I. Joe – A Real American Hero foi ao ar em 1995 pela Rede Globo, durante o programa da TV Colosso, junto a reprises da série 1. O fato de ele não ter sido um programa solo na grade diminuía o número de referências ao desenho na mídia, o que dificulta a pesquisa hoje em dia.
Novamente, a dublagem ficou a cargo da Herbert Richers, mas alguns personegens tiveram que trocar de dubladores. Antonio Patiño, que antes dublava Serpentor, assumiu os vocais do Comandante Cobra, tendo em vista o falecimento de André Luiz Chapéu em 1991, e Hamilton Ricardo substituiu Carlos Seidl como Gen. Hawk. Silvio Navas seguiu sendo a voz de Destro, no entanto.
Essa série nunca ganhou uma versão em home video no Brasil.
Entre 1989 e 1991, o desenho produziu uma minissérie e duas temporadas, totalizando 44 episódios. Mais detalhes sobre cada uma nos links a seguir: