A intenção desta seção do Cobra Café é meio que dar uma noção daqueles loucos anos originais em que G.I. Joe foi a marca de brinquedos para meninos de maior sucesso nos EUA e no Brasil. Aqui contaremos histórias de bastidores, e relembraremos o que estava acontecendo nos brinquedos e também em mídias nos EUA, no Brasil, e no mundo. Nosso foco neste site é a linha A Real American Hero, que mede 3,75 polegadas. Por isso, começaremos nossa história nesse ano. Mas antes, vale estabelecer um breve contexto.
Lembrando que sempre continuaremos agregando histórias aqui na medida em que formos pesquisando e descobrindo coisas novas.
Inicialmente, a sigla G.I. era usada como um jargão do departamento de logística do Exército estadunidense para se referir a equipamentos de ferro galvanizado (em inglês, galvanized iron, daí a abreviação), e ainda durante a Primeira Guerra Mundial, passou a ser usada para o equipamento utilizado pelos soldados, ganhando o significado de Infantaria Geral (General Infantry) ou Item Geral (General Issue). Na Segunda Guerra, o termo G.I. Joe passou a ser usado para se referir aos soldados.
Como muitos já sabem, G.I. Joe foi o nome escolhido para o primeiro Action Figure jamais lançado, que chegou às prateleiras em 1964. A ideia da fabricante Hasbro, na época, era fazer uma “boneca para meninos”, inspirado na Barbie, de quem herdou o tamanho de 9 polegadas (uns 30 cm). A série original contava com quatro bonecos, representando Exército, Marinha, Aeronáutica e Marines, com uniformes e equipamentos que poderiam ser trocados.
Uma curiosidade é que, durante a Guerra do Vietnã, devido à rejeição da sociedade em relação à violência do conflito, a linha se reposicionou para temas mais relacionados à aventura, fase que ficou conhecida como Adventure Team, e que foi a mais aproveitada no Brasil para o lançamento do Falcon, da Estrela.
G.I. Joe foi sucesso absoluto de vendas durante anos, promoveu a Hasbro a uma das maiores fábricas de brinquedo do mundo. Apesar disso, em 1976, a crise do petróleo encareceu os insumos do plástico, motivo pelo qual a linha já não dava mais o retorno financeiro esperado, e foi cancelada.
No início dos anos 80, a ideia para a solução encontrada para revitalizar a marca veio da pequena concorrente Kenner. Ela foi a única que aceitou fechar contrato com o cineasta George Lucas para vender itens baseados no filme de ficção científica no qual estava trabalhando e que se chamava Star Wars, ou Guerra nas Estrelas, como foi conhecido por aqui na época.
O designer Dave Okada começou a receber os desenhos de personagens e espaçonaves de Lucas e começou a se debater com um problema: o padrão de 30 cm dos action figures de então resultaria em naves grandes e caras demais. Era preciso estabelecer um novo padrão com cuidado, para que toda a linha seguisse a escala e permitisse recriar mundo da saga intergalática na sala das crianças. Ele decidiu que a o tamanho básico de figura no qual as outras se baseariam seria Luke Skywalker e foi consultar seu chefe, Bernie Loomis qual seria o tamanho ideal para o jedi.
– Dave, aqui está minha decisão executiva: Luke será deste tamanho.
Ele então estendeu a mão, com o polegar e o indicador abertos de maneira a demonstrar que o espaço entre eles seria o tamanho do cavaleiro jedi. Dave sacou uma trena e mediu: 3,75 polegadas (uns 9,5 cm).
O sucesso de Star Wars trouxe uma nova ideia para revitalizar G.I. Joe dentro da Hasbro. Com o novo padrão de 3,75″, seria possível vender veículos com uma margem de lucro atraente e bonecos como complementos, em uma estratégia de marketing conhecida como Gilette. Isso porque esta empresa produz barbeadores que necessitam da constante compra de novos refis para funcionar (no caso, os bonecos seriam os refis).
O objetivo era construir action figures de qualidade que se pudesse brincar e colecionar. Por isso, a ordem era muitos pontos de articulação e “detalhes, detalhes, detalhes”.
De fato, o designer dos veículos Wayne Luther diz que o exército americano permitiu que a equipe da Hasbro visitasse uma instalação em Pawtucket para juntar ideias e inspiração. Segundo ele, eles chegaram a ter acesso até a protótipos e equipamentos novos que eram confidenciais.
Como ainda não se conhecia o potencial de vendas da linha, embora contem com o design caprichado que é marca do designer das figuras Ron Rudat, muitas peças foram reaproveitadas entre personagens.
Clique para ver os lançamentos da Hasbro em 1982Outra lição ensinada por Star Wars que a Hasbro aprendeu muito bem foi que storytelling ajuda a manter o interesse e fidelizar consumidores (bom, pelo menos com a gente, acho que deu certo ;P). Até hoje, eles mantêm a política de expandir o universo de suas marcas em mídias, que fazem parte do que eles chamam de brand blueprint (ou planta da marca, que apresenta orientações para franquias guiadas por histórias).
Em 1982, eles recorreram à Marvel para criar um universo para G.I. Joe. Naquela época, revistas licenciadas eram vistas com desdém e todos os autores recusaram o trabalho, menos um, que estava literalmente na última sala do corredor: Larry Hama.
Larry não só aproveitou bem a oportunidade como transformou o título no mais assinado da Marvel nos anos 80. Vejam que ele não apenas contou as histórias, mas se envolveu no desenvolvimento da marca. Criou personagens, como a Baronesa, e até dava pitaco no design dos veículos, aproveitando sua experiência militar. Além disso, os perfis que ele criou para cada figura foram resumidos e aproveitados para as fichas que vinham atrás de cada cartela de figura ou caixa de veículo.
Hama tinha um projeto que havia criado para a Marvel em que o filho de Nick Fury lideraria uma equipe paramilitar que foi usado como base para as HQs do G.I. Joe – A Real American Hero.