A série animada do G.I. Joe estreou em 1983 com a minissérie que se convencionou chamar de O Mecanismo MASS. A ideia surgiu dentro da agência de publicidade da Hasbro, Griffin-Bacall, responsável pelos comerciais das HQs, que já tinham desenhos produzidos pelo departamento de animação da Marvel e que fazia muito sucesso entre a criançada.
Para produzir a animação, a agência fundou um novo departamento chamado Sunbow, e manteve a parceria com a Marvel Animation. A missão era fazer um desenho fora dos padrões da época, que não subestimasse a inteligência das crianças. Para alcançar esse objetivo, foi dada preferência à contratação de roteiristas vindos de séries live action e quadrinhos.
Inicialmente, foi realizada uma minissérie em cinco episódios que se convencionou chamar de O Mecanismo MASS em 1983, desenvolvida por Ron Friedman. O sucesso foi enorme, e, no ano seguinte, a mesma fórmula se repetiu para o lançamento de A Vingança do Cobra.
Dado o interesse gerado pelas minisséries, uma primeira temporada foi encomendada para o ano de 1985, dessa vez capitaneada por Steve Gerber, o criador de Howard o Pato nos quadrinhos, e que originou aquela que talvez tenha sido a fase mais interessante da Sunbow, muito embora o grande número de episódios (55, quantidade comum na época) tenha gerado momentos que parecem bem datados hoje em dia. Depois de sua saída, Buzz Dixon assumiu o segundo e último ano.
Entre os nomes conhecidos das HQs que participaram da série, estiveram Martin Pasko, Marv Wolfman, Dennis O’Neil, que era editor da Marvel na época. Rod Whigham, que desenhou vários números das HQs, também criou os layouts dos personagens para a telinha, de acordo com o G.I. Joe – Yearbook.
Mesmo sendo uma versão mais voltada para crianças menores em relação ao gibi (as armas disparavam lasers ao invés de balas), o desenho era muito divertido.
A série era produzida em esquema de syndication, ou seja, feita para ser vendida para os canais de televisão, e se tornou um dos grandes clássicos desse modo de fazer TV nos EUA.
Nos EUA, cada desenho do G.I. Joe terminava com algum ensinamento, assim como no desenho do He Man, porém no Brasil essa parte era cortada. Tipicamente, um Joe encontrava crianças com algum problema e os ensinava uma valiosa lição, sempre terminando com o diálogo:
– E agora nós sabemos!
– E saber é metade da batalha.
A animação G.I. Joe – A Real American Hero chegou ao fim por uma questão de contexto do mercado. Para a Hasbro, o foco era vender brinquedos. Nesse sentido, essencialmente o desenho era uma série de comerciais de 30 minutos de duração. Por isso, manter os padrões de qualidade da Sunbow (que só não eram ainda melhores em razão dos prazos curtíssimos) tinha um custo considerado elevado.
A esse investimento, se soma aos grandes planos que a Hasbro tinha para as animações em 1987 e acabaram não tendo o retorno esperado. Nesse ano, várias marcas da empresa deveriam ter lançamentos no cinema, inspirados pelo sucesso da animação dos Ursinhos Carinhosos. G.I. Joe – The Movie deveria ser a primeira, mas devido a atrasos de produção, Transformers – the Movie e My Little Poney the Movie estrearam antes. O problema é que eles não foram lá muito bem nas bilheterias. Os Joes acabaram amargando um lançamento direto em home video.
Durante a pré-produção da terceira temporada, a Hasbro acabou passando a licença do desenho para a DIC, que operava a custos bem abaixo do preço de mercado da época. Como a gente recebe aquilo por que está pagando, a qualidade também diminuiu.
Quando a animação de G.I. Joe pela Sunbow foi cancelada, já haviam algumas ideias incipientes sobre como seria a terceira temporada.
Michael Charles Hill, autor de vários episódios da animação, propôs o que seriam as linhas gerais da temporada que seguiria os acontecimentos do longa G.I. Joe – The Movie: Com a derrota de Cobra La, uma nova organização criminosa liderada por Tomax e Xamot chamada The Coil (algo como A Espiral, ou A Bobina, como traduzida pela Herbert Richers) emergiria dos membros restantes da organização Cobra. O grupo já havia aparecido como uma sociedade de insatisfeitos com a liderança de Serpentor em Ataque Terror, episódio do fim da segunda temporada. Então eram membros Firefly, Destro, Storm-Shadow, e o Comandante Cobra, seu líder.
Devido a sua condição de mutante, o Comandante Cobra ficaria de fora conspirando para reverter sua transformação e voltar a ser o líder que foi. Por vezes, estaria do lado dos Joes, por vezes do lado dos Cobras, dependendo de seus interesses no momento.
No entanto, durante a pré-produção, a Sunbow perdeu a licença para a DIC e esse enredo nunca chegou a ir ao ar. Como será que teria sido? O mais próximo que chegaremos de saber é o vídeo abaixo, postado pelo Yojoe.com no Facebook. Eles juram de pé junto que é uma versão preliminar do que seria a abertura caso a terceira temporada fosse ao ar. As cenas são uma mistura da abertura de G.I. Joe de Movie com as de outras temporadas, e algumas inéditas.
Inicialmente, o desenho foi lançado em VHS pela Family Home Entertainment. Naquela época, as temporadas não eram colecionadas em ordem. Estiveram disponíveis os seguintes títulos:
Alguns episódios também foram lançados em volumes pela Kid Rhino:
Na era do DVD, as temporadas foram lançadas de maneira organizada. A Shout! Factory lançou os seguintes DVDs:
E, como não se poderia deixar de menciona, em 2009 lançou a descoladíssima caixa reunindo toda a coleção. Ela tem a aparência de um baú secreto e, quando se abre, tem uma tampa que parece um computador.
Olhando mais para dentro, ela tem duas embalagens digipacks com todos os episódios da série, mais o longa e material extra. Além disso, vêm uma folha com tatuagens temporárias, um pendrive em forma de dog-tag que contém duas HQs e um livro de 60 páginas com referência ao conteúdo.
Além disso, como G.I. Joe the Movie seria lançado no cinema, teve qualidade o bastante para ganhar sua versão em blu-ray também.
No dia 27 de março de 2020, em plena quarentena do COVID-19, a Hasbro disponibilizou episódios completos do desenho gratuitamente em sua página do Youtube. Clique aqui para abrir a página. Palmas para ela por essa iniciativa! Nota: Estão todos em inglês.
No Brasil, a animação estreou na Rede Globo em 6 de julho de 1986, com o episódio O Ataque dos Animais, na esteira do sucesso do brinquedo (embora funcionários da Estrela afirmem que ela não teve nenhuma relação com a vinda do desenho para o país)¹.
Inicialmente prevista para estrear no Xou da Xuxa, a emissora mudou de ideia em cima da hora porque queria puxar mais audiência infantil para os domingos, dia em que ficaria junto a outros grandes clássicos como Transformers, Thundercats e Armação Ilimitada².
Comandos em Ação ficou nessa posição da grade de programação com grande sucesso até 29 de maio de 1988. Cabe lembrar também que, entre 29 de junho e 21 de agosto de 1987, o desenho saiu de seu horário normal e ficou um período na Sessão Aventura junto a Thundercats (de segunda a sexta, depois da Sessão da Tarde, por volta das 16h20). Na primeira semana desse esquema, estreou A Vingança do Cobra, primeira minissérie de cinco capítulos a ser exibida por aqui.
Em 30 de junho de 1988, o desenho foi finalmente transferido para o Xou da Xuxa , e tornou-se diário de segunda a sábado, o que permitiu a emissora passar outras minisséries de cinco episódios como O Mecanismo MASS e A Pirâmide da Escuridão. Além disso, em 1989, o programa da Rainha dos Baixinhos exibiu pela primeira vez a segunda temporada³.
Comandos em Ação – Especial, como se chamou o G.I. Joe the Movie no Brasil, passou em uma Sessão da Tarde Especial da semana da criança em 11 de outubro de 1989. Naquela semana, a programação foi Transformers – O Filme na segunda-feira, A Fuga Espetacular do Zé Colmeia na terça, o longa do Comandos na quarta, Scooby Doo e o Lobisomem na quinta e Ursinhos Carinhosos 2 na sexta⁴.
É possível que a passagem do desenho do G.I. Joe na Globo tenha se encerrado em 1990. Não temos certeza disso porque não encontramos nenhuma referência à saída da grade, apenas não encontramos mais menções à animação em jornais ou comercias da época. Há evidências também que a fase Sunbow foi reprisada em 1995 como parte da programação da TV Colosso.
A dublagem ficou a cargo da sempre excelente Herbert Richers, tendo no elenco os impagáveis André Luiz Chapéu e Silvio Navas fazendo a dobradinha Comandante Cobra/Destro, além de outros grandes atores de dublagem como José Santanna, Monica Rossi e Julio Cezar Barreiros, entre outros.
Segundo Marco Antônio Costa (dublador do Barbecue e do Dial Tone) nos explicou na época que fizemos a campanha Volta GIJoe, a direção de dublagem ficou a cargo de Mario Monjardim, o Monja, e também de José Santanna, o Duke em pessoa, em alguns episódios.
A exemplo do que aconteceu nos EUA, uma coletânea de episódios foi lançada em VHS em 1991 pela Videolar Sell Thru com a dublagem original da Herbert Richers. Cada fita continha dois episódios.
O G.I. Joe – The Movie também foi lançado por aqui em VHS pela América Vídeo Kids. Repare no exemplar abaixo que o nome do filme na arte da caixa é apenas G.I. Joe, conforme a nota do Estadão havia informado⁴.
Infelizmente, esse pedaço da nossa infância foi solenemente negligenciado pela Hasbro e a animação nunca ganhou uma versão em DVD por aqui nem tampouco fez parte da grade de algum serviço de streaming. Entre 2018 e 2019, fizemos uma campanha nas mídias sociais para conseguir algum interessado no lançamento que não deu resultado.
Hoje em dia, caso você queira rever essa preciosidade é preciso recorrer a arquivos compartilhados por fãs na internet. É possível achar cerca de 67 dos 95 episódios por aí em diferentes tipos de qualidade, além do filme. Não é nossa intenção aqui ter problemas de direitos autorais com a Hasbro, apenas preservar esse material, por isso infelizmente não temos como dar os caminhos das pedras. Nossa sugestão é: converse com outros colecionadores para ver o que você consegue. Além disso, se você tem episódios em fitas velhas, tente resgatá-los e compartilhar com outros colecionadores o máximo que conseguir. Fizemos um tutorial de como fazer isso. E dê seus pulos, como se diz por aí 😉
Depois que deixou de ser exibido pela Globo, o canal pago Locomotion, que transmitia animações para adultos na América Latina, também passou o desenho.
Além de transmitir desenhos de temática adulta, o canal também tinha em sua programação animes (como Akira, Blue Submarine, Ghost in the Shell) e desenhos antigos (como He-man, Popeye e Tartarugas Ninja). A intenção era cativar os saudosistas para rever as animações da sua infância.
O canal ficou no ar entre 1997 e 2005 e transmitiu G.I. Joe por volta de 1999. Os episódios exibidos eram redublados pela The Kitchen, o que tirava um pouco do sentimento de saudosismo.
Entre 1985 e 1987, o desenho produziu duas minisséries e duas temporadas, totalizando 95 episódios, mais um longa metragem. Mais detalhes sobre cada uma nos links a seguir: