G.I. Joe Origens: Snake-Eyes

Ano: 2021
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Evan Spiliotopoulos, Joe Shrapnel, Anna Waterhouse
Estúdios: Paramount Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Skydance Media

Personagens neste filme:
Snake-Eyes (Henry Golding, quando adulto, e Max Archibald, quando criança), Storm Shadow (Andrew Koji), Baronesa (Úrsula Corberó), Scarlett (Samara Weaving), Blind Master (Peter Mensah), Hard Master (Iko Uwais), Akiko (Hakuka Abe, novo personagem) , Takehiro Hira (Kenta), e Eri Ishida (Sen).

Antecedentes e produção

Com dois filmes com bilheteria apenas mediana de G.I. Joe, ao lançar Snake-Eyes, a Hasbro e a Paramount pareceram incluir a franquia em uma estratégia mais global. Ao focar em histórias de um personagem individual, as empresas parceiras seguiam a mesma lógica que usaram para reformular os Transformers em Bumblebee (2018).

Assim, levar as coisas com calma pareceu um movimento no sentido certo. Com mais de uma centena de personagens e quase 40 anos de histórias para contar (isso sem levar a consideração a encarnação anterior de 12 polegadas), uma das críticas a Origem de Cobra foi tentar incluir muita informação desnecessária, como a origem da família Destro, tirando o foco da trama principal. Além do mais, é possível testar atores e histórias com orçamentos menores e decidir o que deve seguir adiante e o que pode ser descartado em futuras produções.

A ordem foi desconsiderar os filmes anteriores (de novo), e contar a origem do primeiro ninja do G.I. Joe. Dessa maneira, ao invés de mais uma vez estarem envolvidos em uma história paralela completamente sem relação com trama principal, esse seria um filme de artes-marciais, no qual os membros do clã Arashikage estariam no centro.

Nesse sentido, a produção começou muito bem. Para o papel de Storm Shadow, escalaram Andrew Koji, que impressiona pela sua habilidade na série Warrior, desenvolvida a partir de um conceito criado por ninguém menos que Bruce Lee. Além disso, chamaram Kenji Tanigaki, o coordenador de luta de alguns dos melhores filmes modernos de samurai do Japão.

Já para a cadeira de diretor, recorreram a Robert Schwntke, que trabalhou em filmes como RED: Aposentados e Perigosos, RIPD – Agentes do Além, dois filmes de A Série Divergente, e O Capitão. Ele nunca havia trabalhado em um firlme de artes-marciais, e muitos são os críticos de sua habilidade em filmar cenas de ação.

A primeira polêmica antes do lançamento foi a mudança de etnia do personagem. Se, no brinquedo e no desenho ele nunca teve seu rosto revelado, nas HQs de Larry Hama, ele era branco. Para o papel, foi escalado o carismático ator britânico-malaio Henry Golding. Após a obrigatória controvérsia que se seguiu, em que alguns reclamavam que sua infância estava sendo destruída, e outros que o Snake-Eyes sempre deveria ter sido asiático, o próprio Hama sentiu necessidade de se explicar em seu perfil de Facebook:

“Algumas pessoas estão dizendo que o casting de Golding ‘conserta’ o personagem Snake-Eyes, mas eu discordo. Eu queria mantê-lo ambíguo até a HASBRO apresentar Storm Shadow como o único personagem asiático e fazê-lo um vilão. Eu decidi ‘consertar’ isso mergulhando em seu background e gradualmente o transformando em um mocinho. Por isso Snake-Eyes é um cara branco.”

Mas a polêmica em torno da mudança de etnia, sempre tediosa e desnecessária, não foi a única. Nesse filme, o ninja mudo mostraria o rosto e falaria. Muito. A ideia seria mostrá-lo antes de que ele virasse o personagem que conhecemos. Esqueça o comando que serviu o exército na guerra do Vietnã junto a seu amigo Tommy.

Inicialmente, ao saber que o personagem falaria e não usaria máscara, Hama simplesmente comentou com um “ah, dá um tempo” em seu perfil no Facebook, mas, mais tarde, parece ter mudado de opinião.

De fato, Golding afirmou ao Hollywood Reporter que o quadrinista, nova-iorquino de origem japonesa, aprovou sua escalação para o pepel e as demais mudanças. O próprio Hama voltou a comentar isso mais uma vez no Facebook.

Fonte: Facebook do Larry Hama

Eu realmente não entendo os puristas de continuidade. Será que eles não sabem que a linha do tempo de 185 edições inteira é um grande ret-con, e que eu nunca tive uma visão a longo prazo estruturada. Eu inventei a história literalmente página a página. Se eu ainda esivesse aderindo à mesma linha do tempo, todos os personagens principais estariam na casa dos setenta, eu realmente adoro para onde os cineastas levaram [a história], e eles todos fizeram isso com o maior respeito.

Fato é que conseguir a bênção de Hama foi importante para a Paramount e a Hasbro obterem uma camada de legitimidade para as mudanças que queriam fazer em sua propriedade.

A Paramount chegou a brincar com as mudanças, fazendo uma campanha de stop-motion no estilo das lições no fim do desenho clássico.

A História

O filme começa quando o pai do ainda criança Snake-Eyes é assassinado por uma gangue misteriosa. Ele cresce se virando sozinho, e lutando para ganhar a vida nas horas vagas. Quando o mafioso Kenta percebe seu potencial, ele é contratado em troca da promessa de informações sobre a identidade do assassino de seu pai.

Snake-Eyes é acolhido entre os Arashikage depois que Storm Shadow assume uma dívida de gratidão com ele. Sentindo-se acolhido pela primeira vez na vida, ele participa dos testes para entrar para o clã. O fato de ele não conseguir abandonar seu desejo de vingança pela morte do pai, no entanto, cria problemas para ele e para o grupo de ninjas. Ele, então, tem que correr contra o relógio para salvar sua nova família.

Recepção

Golding foi muito elogiado pela crítica no papel, e pode muito bem ser a melhor coisa do filme. Já a trama, embora parta de uma premissa interessante, é bastante limitada. A impressão que fica é de que a Hasbro faz filmes para crianças de dez anos, e não aprendeu a lição com seu desenho dos anos 80, que procurava não subestimá-las, e nem tampouco com a HQ, centrada em personagens.

O que resulta de suas investidas no cinema são filmes cheios de buracos na história, e voltados simplesmente para uma imagem supostamente descolada para originar brinquedos legais. Para se ter uma ideia, o “ninja preto” do G.I. Joe não tem uma aula de ninjitsu na vida; ele aprende a lutar na rua, e tudo o que os Arashikage têm para a ensinar a ele são conselhos como “limpe a sua mente”.

Um dos principais chamarizes do filme, as cenas de ação, também não foram muito elogiadas. “Descoordenadas” e “mal editadas” foram alguns termos achados na internet para se referir a elas. Por tudo isso, o filme amargou um índice de 36% no tomatômetro dos críticos no Rotten Tomattoes. Na opinião da audiência, o filme vai um pouco melhor, com 74%.

Não é incomum filmes de ação com críticas não lá muito boas. A notícia ruim mesmo é que G.I. Joe continua sem conseguir atrair grandes audiências no cinema. Segundo o site Box Office Mojo, o filme conseguiu apenas US$ 13,4 milhões no fim-de-semana de estreia, o que condenou o Brasil a receber o filme direto em streaming.

Ao todo, o filme fez apenas US$ 40 milhões mundialmente. Deve-se levar em consideração que a estreia se deu em condições que estavam aquém do ideal, pra dizer o mínimo. A pandemia de covid-19, que afetou praticamente todos os aspectos da sociedade, teve um impacto profundo no setor cinematográfico.

Cinemas foram fechados durante meses em alguns países, e voltaram a operar com capacidade reduzida quando a situação melhorou um pouco, mas muitas pessoas ainda evitavam esse tipo de programa. Segundo o Box Office Mojo, o setor teve 81,4% de queda no rendimento entre 2019 e 2020.

Empresas como Disney se viram obrigadas a usar a tática de lançar filmes ao mesmo tempo nos cinemas e no streaming. Muitos títulos desenvolvidos para se tornarem blockbusters (o ganha-pão da maioria dos estúdios) tiveram suas estreias adiadas, como foi o caso do próprio G.I. Joe Origens: Snake-Eyes, previsto para outubro de 2020, e remarcado para agosto de 2021.

Isso afetou a arrecadação, mas não foi só. Ainda usando o Box Office Mojo como referência, o filme ficou em 37º lugar no ranking das maiores bilheterias dos EUA em 2021.